quarta-feira, 23 de maio de 2007

Hit!

Cris Nicolotti é a nova diva do momento com seu hino absurdo, hype total da internet; ela conta tudo
Por
Lufe Steffen

De repente o Brasil acordou e um novo hino estava nos computadores. Dali ganhou as ruas. O próximo passo é o mundo... Virou (desculpem usar essa expressão, mas é o único jeito) mega-hype no YouTube o clipe de "Vai Tomar no Cu", onde uma mulher bem kitsch interpreta a singela canção, ensinando assim a "retomar as rédeas da sua vida", para em seguida ser acompanhada por um empolgado coro gospel bem ao estilo da famosa "Oh Happy Day".

A diferença é que a cançoneta atingiu todos os públicos, e passou a fazer parte do dia-a-dia das pessoas. "É uma música extremamente útil, serve para tudo, para o namorado, o chefe, para os políticos, para a mesa que você bateu a perna...", conta a musa responsável pela façanha: Cris Nicolotti.Ela tem 49 anos de idade, 32 de carreira como atriz.

Já atuou em dezenas de peças de teatro, cantou em bares, fez TV - minisséries na Band e trabalhos no SBT - e brilhou durante 10 anos apresentando programas de venda do canal Shop Tour - quem nunca varou madrugadas acompanhando esse inenarrável canal?Pois por trás da agilidade e do bom humor na hora de anunciar os produtos, Cris Nicolotti continuava seu trabalho como atriz, e começa a ser reconhecida agora - ela está estreando 3 espetáculos teatrais em breve: "Orquestra de Boca em Broadway", fazendo direção artística para a peça que tem um elenco de 25 atores-cantores, interpretando grandes clássicos de musicais da Broadway, como "Rent", "Chorus Line" e "Chicago"; atuando numa montagem de "Hamlet", de Shakespeare, só que falada em italiano e para ser montada em Buenos Aires; e o carro-chefe, "Se Piorar, Estraga", cuja trilha sonora traz o hit do cu.

A música nasceu há 2 anos, quando Cris e alguns amigos tocavam violão no quintal de casa numa noite de verão. Um vizinho mal-humorado abriu a janela reclamando do barulho. "Eram 4 pessoas, não era uma zona. Mas o vizinho pentelho tava irritado", lembra Cris. A fúria do vizinho inspirou Cacá Bloise, produtor de Cris, a pegar o violão e compôr - no ato - a música. Veio tudo na hora, melodia e letra. Nascia um futuro clássico.Cris se lembrou da canção ao escrever o monólogo de humor "Se Piorar, Estraga", em parceria com Itamar Lembo.

Na peça, ela interpreta 7 personagens, partindo da protagonista Roberléa, "uma surtada que conta a vida para o psiquiatra". Roberléa acaba virando mentora de uma nova doutrina, a "culosofia", baseada no "cuxistencialismo"...O espetáculo tem direção de Fafy Siqueira e estréia no Teatro do Shopping Frei Caneca no dia 26 de junho. E até quando fica em cartaz? "Só Deus sabe!", diz Cris.

Ela conta que o sucesso repentino da música pegou todo mundo de surpresa. Cris gravou a canção para incluir no espetáculo, e enviou a faixa por email a um amigo, sem compromisso, apenas para comentar "olha como ficou linda a música do cu". A música acabou vazando, as pessoas começaram a receber a faixa por email, sem saber de onde vinha aquilo.Ela resolveu então gravar um vídeo - o agora famoso clipe - para colocar no YouTube, a fim de divulgar que a música fazia parte de um espetáculo, de um projeto, e que era ela quem cantava. No começo Cris ficou nervosa porque imaginou que a divulgação da faixa tiraria a surpresa do espetáculo.

Mas o efeito foi o inverso. Agora todos querem assistir a peça que tem a "música do cu". "Bendito filho da puta que soltou a música na rede", diverte-se ela hoje. Apesar do sucesso, Cris afirma que não pensa em ser cantora. "Eu cantava em bares nos tempos de juventude, sabe como é", conta. "Uma atriz tem que saber cantar e dançar, mas não penso, por exemplo, em gravar um CD, isso não".A julgar pela espantosa repercussão da faixa, até poderia rolar um CD de remixes da canção - quem sabe algum DJ não se anima? "É uma música que pegou todo mundo, e é até política. Os vídeos do YouTube em geral são muito políticos. E eu acho o máximo que todo mundo cante, o preto, o amarelo, o rosa, o gay, a criança, enfim... é a música pra dizer o que a gente pensa!", diz Cris.

Para ela, o título da música não tem palavrão. "Palavrão é fome, é corrupção, é criança morrendo. Cu não é palavrão". E emenda que "cê canta ela e fica bem. É uma música de descarrego!"