domingo, 5 de abril de 2009

Uma nova onda
O mundo está ficando mais complicado. Mas também mais interessante
por Denis Russo Burgierman

Como eu contei aqui no mês passado, acabei de voltar de uma viagem pelo Brasil. Foi um mês andando de carro - 7 mil quilômetros rodados, dez cidades visitadas, um monte de entrevistas, observações, seções fotográficas. Tudo isso para tentar entender o que passa pelas cabeças - e pelos corações - deste Brasil. Nosso foco principal foi falar com jovens que estão chegando agora à idade adulta - enfim, com as pessoas que, daqui a pouquinho, vão mandar no país. (O motivo da viagem é tentar imaginar uma nova revista para essa galera.)

Uma viagem para guardar na memória, que refez um pouco minha visão de mundo. Fui me dando conta de que tem uma espécie de movimento acontecendo, uma onda se erguendo no horizonte, um novo jeito de pensar que lentamente vai se espalhar e mudar o país. E o mundo. A gente apelidou esse movimento de "cultura livre". Basicamente o que cada vez mais gente quer é o seguinte:

- Independência. Mais gente está tentando viver por conta própria, sem chefe ou crachá, sem ninguém (Igreja, família, jornal) decidindo como você deve pensar. Encontramos um monte de gente que trocou salários altos por independência. Estão todos sem grana e felizes.

- Colaboração. A internet tornou possível que gente com interesses parecidos se junte e faça coisas grandiosas acontecerem. Encontramos um monte de "coletivos" na estrada. Um coletivo é um grupo de pessoas, cada uma perseguindo seu objetivo pessoal, mas que se unem para ficar mais fortes. Às vezes, essas uniões são informais, baseadas apenas em interesses comuns. Eles são o futuro.

- Mão na massa. Ninguém mais tem paciência para discurso político, para essa história de defender altos ideais descolados da realidade. Encontramos um monte de gente que despreza partido político e que acha que o jeito de melhorar o mundo é sentar, conversar e cada um fazer um pedacinho, em vez dessa baboseira de odiar quem pensa diferente de você.

- Mudança. Obviamente está tudo errado no jeito que organizamos a sociedade. E há um monte de gente disposta a mudar o mundo, a varrer da história as empresas que nos enganam, os políticos que nos roubam, os burocratas que atravancam nosso caminho. E o mais legal: as pessoas estão otimistas. Armadas de internet e ajudadas por parceiros, elas se sentem poderosas para enfrentar coisas que parecem eternas e imensas.

- Expressão. Acabou a época em que 1% de privilegiados criavam para 99%. Todo mundo quer brincar. Todo mundo quer produzir, se expressar, criar, propor. E cada vez mais gente está fazendo coisas interessantes, mesmo sem recursos.

Pode ser empolgação de estrada, mas voltei para São Paulo feliz da vida. O mundo está mesmo ficando cada dia mais complicado. Mas está ficando também mais interessante.


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